Hoje na série Relato de um leitor, temos a minha queridíssima conterrânea gaúcha Raquel Neutzling, de 23 anos, natural de Pelotas formada em arquitetura e urbanismo, que mora em Dublin há 8 meses.
Comecei a pensar na ideia de fazer
intercâmbio ano passado depois que apresentei meu trabalho final de graduação
na faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Eu lembro que quando vi o meu nome
entre as listas dos aprovados eu me "desesperei", olhei para minha mãe
e falei: "E agora, eu faço o que da minha vida?", estava completamente
''perdida'', não tinha certeza se tinha escolhido a profissão certa e também
sabia que se eu não me jogasse em uma experiência diferente naquela hora,
depois de começar a trabalhar ia ser muito mais difícil largar tudo e partir
para o ''desconhecido''. Então fiquei pensando ''o que faço?" e eis que
me veio a ideia de fazer um intercâmbio. A princípio pensei: "Beleza, vou
passar um ano fora, vou viajar, conhecer novas pessoas, pensar o que realmente
quero para minha vida e volto", não imaginava o que viria...
Então, procurei uma agencia de
intercâmbio na minha cidade (Pelotas/RS) e fui estudar as possibilidades. A princípio
era Austrália ou Dublin. Foi um tiro no escuro, como conhecia algumas pessoas
que já tinham vindo para Dublin e gostaram, pensei ''Por que não?" e
escolhi Dublin. Não teve nenhum motivo especial...
3. Quais eram seus objetivos com o intercâmbio?
Como disse, meu objetivo inicial era
tirar um ano pra pensar no que queria pra minha vida, na verdade hoje vejo que
minha decisão foi uma válvula de escape mesmo, pois ficando na minha cidade, eu
não iria parar de trabalhar (já trabalhava em escritório) para pensar no que
fazer... E também sabia que iria contribuir muito para meu crescimento pessoal,
visto que eu nunca tinha saído de casa, morava com minha mãe, tinha uma vidinha
muito fácil, sem muitas responsabilidades... Estava afim de "ver o mundo
real'' mesmo. Lembro até hoje do meu pai falando para mim "Eu só to te
mandando pra Dublin pra tu virar mulher" kkkkkk (na época fiquei p*ta com
ele, mas hoje reconheço que ele tem razão, aliás ele vai ler isso e ficar se
achando... Tá, pai, tu tinha razão, viu?!) Ah... não posso me esquecer:
Melhorar meu inglês... hahahaha
4. Em qual escola você
estuda/estudou? Qual sua opinião sobre ela?
Estudei na Malvern House. O ensino é
bom, na verdade nunca procurei saber mesmo como é o ensino em outras escolas para
comparar, então não posso dizer se é melhor ou pior que outras escolas. Porém,
eu ouvia bastante reclamações de estudantes de outras escolas quanto ao
atendimento ao aluno, a demora para tudo, muita burocracia para tudo... eu não
tive este problema, sempre que precisei de algo da escola foi facilmente
resolvido e logo eles me davam retorno.
5. Como foi sua adaptação?
É interessante saber sobre a
adaptação de cada um, porque é sempre muuuuito diferente. Tem gente que chega e se
''decepciona'', logo bate a depressão e depois fica bem... Gente que fica mal
no final do intercambio quando a saudade ta apertando... E muitas pessoas como
eu, que vivem numa montanha russa de altos e baixos kkkkkk Pois então, logo que
cheguei, como foi bem de repente minha decisão, eu não esperava nada, então
tudo que veio é lucro, estava curtindo bastante. Daí no terceiro mês pensei
"Ok, vou fazer um currículo e arrumar emprego", como se fosse fácil
assim... Estava acostumada a conseguir tudo muito fácil no Brasil, quando
percebi que aqui seria diferente tive aquele ''choque de realidade'', do tipo
''Bem-vindo ao mundo real'' e foi aí que a deprê começou a bater... Sentia
muita saudade de casa, tinha na cabeça de que ''nada dá certo para mim''...
Lembro que em um mesmo dia cheguei a ligar 3x para minha mãe chorando,
coitada... deixei ela louca! Foi quando eu senti a necessidade de me ''apegar''
a algo maior, e resolvi procurar um grupo Cristão que eu pudesse me juntar.
Conheci o ''Selah'' aqui, uma igreja maravilhosa, composta em sua maioria por
Brasileiros (apesar de o Pastor ser Irlandês hahaha), que me receberam muito
bem e me ajudaram a restabelecer minha fé em mim mesma e principalmente em
Deus! Parei de murmurar e passei a agradecer todos os dias pela oportunidade de
estar aqui e foi aí que as coisas começaram a acontecer para mim...
St. Stephen's Green Park |
Hoje eu moro com
uma família irlandesa e trabalho de AuPair, cuidando de três crianças
MARAVILHOSAS! Quanto ao trabalho de AuPair aqui, eu já ouvi todo o tipo de
experiência, das melhores as piores, mas eu posso tdizer que tive MUITA sorte pois
minha família é simplesmente maravilhosa e minhas crianças são muito educadas,
queridas, especiais, meus amores! Os pais são excelentes, me tratam como parte
da família, são pais exemplares! Cuido de três crianças: Maeve (8 anos),
Jane (6 anos) e Patrick (4 anos). Sou extremamente apegada a família e tenho
certeza que dar tchau para eles em janeiro será tão difícil como foi
dar tchau para minha família no Aeroporto de Porto Alegre.
7. Você atingiu seus
objetivos?
Eu acredito que sim! Minha ideia era
pensar no que realmente queria para mim, posso dizer que pensei, decidi, e já
estou correndo atrás dos meus objetivos mesmo estando aqui! Foi muito além do
que eu esperava, eu cresci demais como pessoa... Para mim, foi o melhor autoconhecimento
que já tive na vida, foi um ''intensivão" de vida em oito meses. Quando
chegamos aqui não importa qual diploma que tu tem, quanto de dinheiro tu tem no
Brasil, aqui tu é só ''mais um'', e isso é muito bom para o crescimento pessoal
de cada um, pois te ensina a ser uma pessoa menos egoísta e mais humilde! Meu
inglês também melhorou muito! Eu estudei há uns anos atrás no Brasil e sempre
gostei da língua então já cheguei aqui em Dublin no nível Intermediário. Antes
de ser Aupair e morar com a família, eu morava bem no centro de Dublin, com
mais seis brasileiros, e estava estudando ainda... comecei no intermediário e
terminei no avançado. É claro que as aulas ajudaram bastante, mas em casa eu
falava português todo o tempo. Quando passei a morar com a família irlandesa
foi aí que meu inglês fluiu de vez, pois falo a língua 24hrs por dia e os pais
e as crianças me ajudam muito.
8. Há quanto tempo você está em
Dublin? Pretende renovar o visto?
Cheguei em Dublin no dia 23 de janeiro,
há pouco mais de 8 meses, e retorno em janeiro. Não pretendo renovar pois acho
que atingi meus objetivos aqui e como disse, já estou encaminhando minha vida
no Brasil, por isso vou voltar!
9. Você faria tudo novamente? Se
arrependeu de algo? Teria feito algo diferente?
Faria... sem dúvidas! Cada choro,
deprê, dia ruim... Tudo valeu a pena! Hoje estou super bem, com uma visão de
vida muito diferente, uma visão de mim mesma muito diferente! Acho que não me
arrependi de nada não, pois tudo que passei contribuiu para que eu estivesse
aqui hoje! Se eu soubesse hoje, que tudo acabaria bem, talvez eu teria tido
mais fé desde o começo e tivesse "murmurado'' menos, mas não é algo que eu
me arrependa, afinal, foi por isso que eu conheci o Selah, onde eu conheci as
pessoas mais maravilhosas, caridosas e especiais que eu poderia ter conhecido
em Dublin!
10. Um conselho para quem está
planejando o intercâmbio.
Primeiramente, se possível não criem
muitas expectativas hahaha que assim a chance de ''quebrar a cara'' é menor!
Venham com a cabeça muito aberta, preparados para todo o tipo de perrengue, mas
sabendo que TUDO PASSA, e que tudo na vida tem um por que! É uma experiência
ótima e libertadora, vocês conhecerão muita gente nova e legal, terão a
oportunidade de viajar pela Europa (Ryanair é vida), conhecerão os famosos pubs
da Irlanda, e acima de tudo conhecerão a si mesmos! E quando a deprê bater,
sempre lembrem que NADA é por acaso, tenham fé SEMPRE e saibam enxergar os
planos de Deus na vida de vocês... Ele sabe exatamente o que faz!
Phoenix Park |
O blog Dublin: morando no exterior agradece a sua participação e deseja toda sorte do mundo para você. Obrigada Raquel!!
As fotos foram disponibilizadas pela leitora.
Se você fez seu intercâmbio ou está fazendo e deseja compartilhar sua experiência conosco entre em contato através do nosso formulário. O blog Dublin: morando no exterior agradece!
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